04/04/2024 às 22h45
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Redacao
Vila Velha / ES
Visivelmente incomodado com a abordagem, o deputado Danilo Bahiense (PL) se apressou em encerrar a conversa. Apressou o passo também. Na última segunda-feira (01), à saída do plenário da Assembleia Legislativa, onde acabara de presidir a sessão, foi inquirido por este jornalista sobre sua pré-candidatura a prefeito de Guarapari. “Pergunta para o senador Magno Malta”, limitou-se a dizer, fugidio, o normalmente atencioso deputado.
Conforme lhe retruquei então, já havíamos levado o questionamento à assessoria do senador e do PL no Espírito Santo, a qual já nos havia confirmado: “Sim, delegado Danilo Bahiense possui todas as características necessárias para ser o pré-candidato do PL em Guarapari, alinhando-se com a meta do partido de ter pré-candidatos a prefeito em todos os municípios do Espírito Santo”.
Insistimos, então, na pergunta ao deputado: “O senhor também confirma isso?” O delegado aposentado apertou o passo e, já nos corredores da Assembleia, subiu um lance de escadas com uma velocidade não testemunhada desde os tempos em que perseguia bandidos como policial civil.
Como denota a cena, o próprio Bahiense parece pouco à vontade com o tema e com a decisão do partido. O deputado pode até estar desconfortável com os desígnios de Magno para ele. Mas o fato, ratificado pela assessoria do PL-ES, é que o senador o escalou para representar o partido bolsonarista na eleição à Prefeitura de Guarapari. Magno é o presidente estadual do PL.
É um movimento, no mínimo, inusitado, começando pelo fato de que se trata de uma inesperada “migração eleitoral”.
Todas as fontes ligadas a Bahiense e ao PL ouvidas nesta apuração também se apressaram em dizer que ele está longe de ser um forasteiro no município de Guarapari, pois, há décadas, mantém uma segunda residência no balneário – um imóvel na praia de Setiba ou na região do Portal de Guarapari, segundo fomos informados, mantido desde os anos 1980. Também consta que, frequentemente, o deputado é visto a caminhar pelas parais da Bacutia e de Peracanga. É o “segundo reduto” dele.
Mas, decididamente, não é o primeiro.
O deputado não só mora em Vila Velha como é um político muito mais identificado com a cidade. Dali veio a maior parte da sua votação na última eleição estadual, na qual se reelegeu para a Assembleia. Dos 24.970 obtidos pelo delegado aposentado, 6.113 vieram de Vila Velha. Em Guarapari, ele só recebeu 743.
Para se habilitar a concorrer à Prefeitura de Guarapari, o deputado do PL teria de transferir o seu domicílio eleitoral de Vila Velha para a cidade vizinha até o próximo sábado (6), conforme determina o calendário eleitoral. O próprio Bahiense recusou-se a responder à coluna se já formalizou sua mudança de domicílio. Já ia alto no lance de escadas. Mas a assessoria do PL-ES confirmou: ele já transferiu o título.
Do ponto de vista legal, tudo limpo para ele ser candidato na “Cidade Saúde”.
A questão que se impõe é: por que Magno Malta resolveu escalar Danilo Bahiense para representar o PL eleitoralmente num “município estranho”, como quem transfere um delegado de delegacia de uma hora para a outra? Tudo bem que o senador, dado a alguns arroubos megalômanos, insista em que o PL seja “cabeça de chapa” ou, no mínimo, “pescoço” (com candidato a vice-prefeito) em todas as maiores cidades do Espírito Santo. Mas, nesse caso específico, não haveria por acaso uma flagrante “forçada de barra”?
O princípio da possível resposta está em outro deputado estadual: o ex-vereador de Guarapari Zé Preto.
Opositor ao governo Casagrande (PSB) quando era vereador na cidade, o criador de cavalos foi um dos cinco deputados estaduais eleitos pelo PL de Magno em 2022. Diferentemente dos outros quatro, tão logo chegou à Assembleia, alinhou-se ao Palácio Anchieta, engrossando a base de apoio de Casagrande no plenário. Assumção, Callegari, Lucas Polese e o próprio Bahiense perfilam-se na oposição.
Zé Preto já elegeu-se deputado estadual querendo ser candidato a prefeito neste ano. E concluiu que, para alcançar o objetivo, a proximidade com o governo seria mais conveniente ao seu mandato e às suas pretensões.
Por conta da aliança estabelecida com o Governo do Estado, Magno se negou a dar legenda para Zé Preto disputar em Guarapari – considerando-o um traidor. Ao longo do ano passado, os dois se distanciaram, até romperem a relação política.
Alegando grave discriminação pessoal por parte da direção partidária – uma das justas causas para desfiliação previstas na legislação eleitoral sobre infidelidade partidária –, o deputado entrou com ação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES) para poder sair do PL sem perder o mandato na Assembleia.
O detalhe extra é que, a pedido de Zé Preto, Magno concedeu ao deputado uma carta de anuência, equivalente a uma liberação formal, em nome da Executiva Estadual do PL. Zé Preto juntou a carta ao seu processo e, no dia 11 de março, obteve ganho de causa no TRE-ES, que reconheceu a justa causa para desfiliação em seu caso. O deputado acaba de entrar no Progressistas (PP) para disputar a sucessão do prefeito de Guarapari, Edson Magalhães.
O que muita gente aventa no momento é que, ao dar a Zé Preto a carta de anuência – possibilitando, assim, a sua entrada no páreo –, Magno teria feito tudo de caso pensado, já com o nome de Bahiense em mente para lançá-lo pelo PL, na mesma disputa, no lugar de Zé Preto.
Agora, com Bahiense entrando nesse páreo como o “verdadeiro candidato bolsonarista”, o deputado do PL pode, em tese, dividir com Zé Preto o eleitorado de direita da cidade, ou, pelo menos, um quinhão desse eleitorado. Se o deputado/delegado não ganhar, pode, no mínimo, fazer algum estrago na candidatura do agora adversário, um ex-aliado considerado desleal ao PL. Resumindo: a inusitada estratégia pode ser motivada, ao menos parcialmente, por um quê de vingança, ou revanchismo.
Essa é uma maneira de se encarar a questão.
Por outro lado, há quem entenda que, se for esse o objetivo de Magno com o lançamento de Bahiense, a estratégia corre o risco de não surtir o efeito desejado. Isso porque, apesar de vir do PL, Zé Preto não teria um voto enraizado em questões ideológicas – diferentemente, por exemplo, de um Capitão Assumção em Vitória.
“Bolsonarismo”, “pautas da direita”, “agenda de costumes”, “valores cristãos” etc.… Não é daí que viria o potencial eleitoral de Zé Preto, e sim de sua incontestável popularidade em Guarapari, que remonta aos tempos de vereador e que o levou a ser o candidato a deputado estadual mais votado na cidade em 2022, com 12.238 dos seus 15.901 votos dados por eleitores de Guarapari. O segundo mais votado para o cargo no município, Wendel Lima (MDB), teve 8.741 votos.
Enquanto Danilo Bahiense pode estar prestes a entrar nessa corrida para atrapalhar os planos de Zé Preto, muitos outros pré-candidatos se alinham no grid de largada, começando pelo grupo político liderado pelo governador Renato Casagrande.
Nesse grupo governista, além do próprio Zé Preto, despontam duas pré-candidaturas: a do subsecretário estadual de Inteligência e Inovação em Turismo, Gedson Merízio, pelo Podemos, e a do ex-deputado federal Ted Conti, atual subsecretário estadual de Articulação de Políticas Intersetoriais, pelo PSB.
No momento, ambos se dizem pré-candidatos, mas, até as convenções partidárias, entre 20 de julho e 5 de agosto, só um deles deve se manter, contando então com a retirada e o apoio do outro. Ao menos é o acordo costurado pelos dois nos bastidores.
A tendência mais forte, hoje, é que Gedson se mantenha no páreo, com o apoio de Ted Conti. Presidente municipal do Podemos, o ex-vereador da cidade também mantém diálogo eleitoral com o próprio Zé Preto, o terceiro pré-candidato sob o guarda-chuva de Casagrande. Não se pode descartar a hipótese de Gedson vir candidato a vice-prefeito na chapa liderada por Zé Preto.
Enquanto isso, em fim de segundo mandato seguido e sem poder ir para a reeleição, o prefeito Edson Magalhães escolheu seu candidato à sucessão. Na semana passada, ele lançou seu secretário municipal de Obras Públicas, Emanuel de Oliveira Vieira, que concorrerá à prefeitura pelo União Brasil.
A tendência é que Magalhães se filie ao MDB, partido presidido no Espírito Santo pelo vice-governador Ricardo Ferraço, por sua ligação histórica com o deputado estadual Theodorico Ferraço, pai de Ricardo e padrinho político do prefeito.
Outro pré-candidato é o vereador Rodrigo Borges, do Republicanos, principal voz de oposição à gestão de Magalhães na Câmara Municipal de Guarapari.
Há, ainda, a possível candidatura do presidente da Câmara, Wendel Lima. Ele, porém, é do MDB. Se Edson Magalhães realmente migrar para o partido de Ricardo Ferraço, já tendo declarado apoio a outro candidato, a presença de Wendel no páreo fica muito comprometida – a menos que ele troque de sigla até o próximo sábado (6).
FONTE: ES 360
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