24/01/2024 às 13h51
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Redacao
Vila Velha / ES
Filiado ao Podemos, o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos, acaba de assumir o controle de outro partido no Espírito Santo – sem precisar sair do Podemos. Após articulações realizadas por Marcelo, o recém-constituído Partido Renovação Democrática (PRD) passa a ser presidido pela servidora da Assembleia Joelma Costalonga, colaboradora direta do presidente do Legislativo Estadual. Assim, Marcelo é quem passará a ditar os rumos do partido no Espírito Santo, por intermédio da aliada, com o foco nas próximas eleições municipais.
Antes de começar a servir a Marcelo Santos, Joelma auxiliava o então deputado Padre Honório (PT), não reeleito em 2018. O petista tinha inserção política em municípios das regiões Norte e Noroeste do Estado, e Joelma, àquela altura também filiada ao PT, era a principal articuladora do mandato do sacerdote.
Com a não reeleição de Honório, Marcelo Santos “aproveitou” a expertise de Joelma, em busca de crescimento político em regiões onde não era bem votado até então. Assim, Joelma passou a atuar como assessora de Marcelo. No ano passado, com a chegada do chefe à presidência da Assembleia, ela tornou-se secretária da Casa dos Municípios, por nomeação de Marcelo. É descrita por auxiliares do presidente como uma articuladora política incansável.
Na presidência do PRD, ela seguirá a serviço de Marcelo, agora cumprindo outra missão. E não só ela, aliás. A primeira Executiva Provisória do novo partido no Espírito Santo foi montada a dedo por Marcelo, como não deixa dúvida a leitura da escalação.
Além de Joelma na presidência, há vários servidores comissionados da Assembleia, igualmente ligados ao chefe, entre os nove membros do órgão diretivo: Yann Piovaneli Machado (subsecretário de Gestão de Pessoas), Dionatan Cordeiro Hermogenio (subdiretor-geral da Secretaria), Livia de Moraes Carao (diretora da Casa dos Municípios), Rillary Patricio Kill (assessor júnior da Secretaria) e Wilton Alves de Sousa (assessor júnior da Secretaria).
Além deles, a Executiva Provisória abriga o ex-deputado estadual e ex-presidente estadual do Patriota Rafael Favatto, como secretário executivo, bem como o ex-presidente estadual do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) Bruno Lourenço, como vice-presidente. Em 2022, Favatto foi candidato a deputado federal, enquanto Lourenço foi candidato a vice-governador na chapa de Manato (PL). Nenhum dos dois se elegeu.
Válida até 30 de novembro deste ano, a Executiva Provisória está oficialmente ativa desde ontem (23), como consta no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Formado oficialmente em novembro do ano passado, o PRD resulta da fusão de duas agremiações de direita: o PTB, comandado por muitos anos pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson, e o Patriota. De 2018 para cá, ambos se alinharam ao bolsonarismo. Durante o governo Bolsonaro, sob a condução de Roberto Jefferson, o PTB passou a atuar como um partido de extrema direita, haja vista a postura radical assumida por seu presidente nacional.
Os dois partidos se fundiram para sobreviverem politicamente. Nas eleições gerais de 2022, nem PTB nem Patriota conseguiram superar a cláusula de barreira.
Naquele pleito, a cláusula de desempenho exigia que um partido elegesse pelo menos 11 deputados federais, espalhados por nove unidades da federação, ou, alternativamente, que atingisse pelo menos 2% do total de votos válidos no país para o cargo de deputado federal, distribuídos por, pelo menos, nove unidades federadas (com um mínimo de 1% em cada uma delas).
Tanto o PTB quanto o Patriota passaram longe disso. O primeiro só fez um deputado federal (Bebeto, no Rio de Janeiro), enquanto o segundo fez quatro (todos em Minas Gerais). Desse modo, os dois partidos ficariam excluídos da divisão do Fundo Partidário e da distribuição do tempo de TV e rádio para inserções e propaganda eleitoral. Na prática, se nada tivessem feito, teriam morrido à míngua. Por isso, logo após o pleito, ainda em outubro de 2022, as direções das duas legendas aprovaram a fusão. Na mesma ocasião, decidiram banir Roberto Jefferson dos quadros do novo partido.
Inicialmente, a intenção era chamar de Mais Brasil a sigla resultante da fusão, mas o nome foi alterado para Partido Renovação Democrática (PRD), com o número de urna 25. Em novembro passado, a fusão foi aprovada e homologada pelo TSE, e o PRD pôde enfim ser criado oficialmente. Desde então, o Diretório Nacional do partido é presidido por Ovasco Roma Altimari Resende. No Espírito Santo, porém, não havia até o momento órgão diretivo constituído. Ou seja, o PRD ainda era “terra de ninguém”, um “partido sem dono”.
E, como fartamente registrado neste espaço ao longo do ano passado, tudo o que Marcelo Santo queria e buscava, há muito tempo, era um “partido sem dono” para chamar de seu no Espírito Santo e sustentar o seu ambicioso projeto de crescimento político-eleitoral no Estado, o qual passa, primordialmente, por uma boa performance do seu grupo político nas urnas, nas disputas municipais de outubro.
Como é público e notório, Marcelo cresceu bastante politicamente nos últimos dois anos, com o excelente resultado colhido por ele nas urnas em 2022 (a melhor votação de sua história) e, notadamente, com sua chegada à presidência do Poder Legislativo Estadual há pouco menos de um ano.
Como ele mesmo também não esconde de ninguém, embalado por essa mudança de status, Marcelo entende que é chegada a sua hora e a sua vez de dar um passo ainda maior: desde novembro de 2022, logo após a sua última reeleição, tem declarado à imprensa que seu plano eleitoral para 2026 é se tornar deputado federal. Aí a conversa é outra, a disputa é muito mais dura, são apenas dez vagas em jogo, e é preciso percorrer e obter votos no Estado inteiro… Enfim, como se diz nos Estados Unidos, é passar a jogar em outra liga.
Para alcançar esse feito, é importante ter uma base de apoio a mais ampla possível bem enraizada por todos os rincões do território capixaba, formada por líderes comunitários e, principalmente, vereadores e prefeitos aliados que lhe sejam leais e lhe devam favores políticos. Funciona assim: eu te ajudo agora, na eleição municipal de 2024, a chegar à Câmara ou à Prefeitura Municipal; você, em troca, trabalha para me ajudar a chegar à Câmara Federal em 2026, mobilizando suas bases em sua cidade em meu favor (e somente em meu favor).
Por isso é tão importante, para ele e para qualquer um que pense grande em 2026, montar chapas de vereadores e prefeitos e eleger, este ano, o maior número de aliados comprometidos com seu projeto de crescimento.
Ora, para comportar esse projeto, Marcelo precisa de um partido proporcional ao seu atual tamanho político e ao tamanho de suas aspirações. E o tem buscado obstinadamente, desde o ano passado.
No primeiro semestre de 2023, em meio a disputas internas e indefinições sobre o comando do MDB no Espírito Santo, Marcelo chegou a conversar pessoalmente em Brasília com o presidente nacional do partido, o deputado federal Baleia Rossi (SP), sobre assumir a presidência do MDB no Espírito Santo. Mediada pelo deputado federal Josias da Vitória (PP), a conversa não foi para a frente.
Em paralelo, as impressões digitais de Marcelo foram vistas nas investidas jurídicas contra o secretário estadual do Meio Ambiente, Felipe Rigoni, visando derrubá-lo da presidência estadual do União Brasil. O autor da principal ação judicial contra Rigoni foi Amarildo Lovato, ligado ao prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (então no UB), por sua vez aliado de Marcelo.
Aliás, a decisão de Euclério de trocar o UB pelo MDB, em outubro passado – abrindo o caminho para RigonI seguir reinando no UB –, levou Marcelo a se afastar de Euclério, ao menos temporariamente.
Marcelo ainda chegou a ensaiar uma migração para o Partido Social Democrático (PSD), presidido no Espírito Santo pelo ex-deputado estadual Renzo Vasconcelos. Também não foi à frente.
No dia 18 de setembro, o presidente da Assembleia chegou a ir ao encontro, em Brasília, da presidente nacional do Podemos, Renata Abreu, externando insatisfações com o presidente estadual, Gilson Daniel, e pedindo a carta de anuência para sair do partido. A deputada federal liderou, então, uma operação “abafa crise”.
Para não arriscar a unidade do partido, Gilson fez concessões importantes, traduzidas numa redistribuição de poder e, mais concretamente, numa repartilha das executivas municipais do Podemos entre ele, Marcelo e outas figuras importantes do partido, como o deputado federal Victor Linhalis e o secretário estadual de Segurança, Alexandre Ramalho.
O armistício parecia selado e Marcelo parecia ter, enfim, sossegado. Assim indicavam suas declarações posteriores ao acordo. Só que não.
Marcelo nunca se aquietou de fato, tampouco se contentou inteiramente. Seguiu e segue inquieto, em busca de um ou mais domínios partidários que lhe permitam expandir ainda mais suas possibilidades de crescimento.
Marcelo e suas ambições parecem já não caber no Podemos, que ficou pequeno para ele. Por mais que ele e Gilson pareçam ter chegado a um entendimento nos pontos mais importantes e restabelecido uma boa relação, há duas questões renitentes:
Primeiro, enquanto Gilson Daniel for o presidente estadual do Podemos, Marcelo, não importa o quanto cresça, será no máximo um coadjuvante de luxo dentro do próprio partido, e não o protagonista, muito menos o líder maior do partido para poder tocá-lo à sua maneira – como, insisto, gostaria de ser.
Segundo, a trégua firmada por Gilson Daniel, Marcelo e outros caciques locais do Podemos de fato amenizou os atritos existentes até então, mas não os dirimiu completamente. É muita boca grande, com muito apetite eleitoral, para pouca refeição.
Ainda resta um punhado de municípios no interior, como Castelo e Boa Esperança, onde Marcelo gostaria de comandar o Podemos em benefício de seus aliados locais, mas onde Gilson já montou a direção municipal e assumiu compromissos eleitorais com os próprios aliados locais – que não são necessariamente os mesmos de Marcelo…
No entanto, apesar das arestas remanescentes, não é nada interessante para Marcelo sair do Podemos neste momento, com as eleições municipais batendo à porta. Ok, ele queria espaço ainda maior, mas é fato que já conseguiu um espaço nem um pouco desprezível: o controle do Podemos em Cariacica e em algumas cidades do interior, com autonomia para montar as chapas de vereadores do Podemos ali. Enquanto isso, poderá agora montar as chapas do PRD de norte a sul do Espírito Santo. E talvez não só a do PRD.
Na alça de mira de Marcelo também está o Solidariedade, presidido no Espírito Santo por Douglas Pinheiro. O presidente da Assembleia tem conversado com o líder nacional do partido, o ex-deputado Paulinho da Força, com o objetivo de repetir, no Solidariedade, a operação bem-sucedida de tomada do PRD.
Sua intenção, no caso, é assumir o controle de mais essa sigla no Estado por intermédio de outro preposto: o subdiretor de Segurança Legislativa da Assembleia, Cleveland Fraga Venancio.
A conferir.
Apesar do péssimo resultado eleitoral do PTB e do Patriota em 2022, o PRD já nasce como o terceiro maior partido do país em número de filiações. Com 1,3 milhão de brasileiros em suas fileiras, só fica atrás do MDB (2,05 milhão) e do PT (1,62 milhão).
FONTE: ES 360
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